Coordenação: Escola Básica e Secundária Armando Côrtes-Rodrigues
Nota de abertura
“A chegada da Primavera”
Finalmente, o Inverno chegou ao fim. Os dias cinzentos e tempestuosos começam a desaparecer e o sol já não se põe tão cedo. Chegou a hora da estação mais fria dar lugar à estação mais colorida do ano.
E eis que surge a Primavera. O sol está mais forte e põe-se mais tarde, tornando os dias maiores e mais amenos. No entanto, de vez em quando, a chuva e o vento dão um ar da sua graça, conforme o ditado popular “Abril, águas mil”. Mas a Primavera é tudo, menos uma estação triste. Considerada por muitos como a estação mais bonita do ano, é a época do rejuvenescimento dos campos; as paisagens voltam a ter cores vivas e as ruas das cidades enchem-se de gente a passear enquanto aproveitam o sol agradável.
Nas escolas, todos estão mais alegres com a melhoria do tempo. Os raios solares iluminam e aquecem as salas de aula e convidam a momentos de lazer no exterior durante os intervalos. Por outro lado, a vinda da Primavera significa que a Páscoa está próxima e que não falta muito tempo para os exames.
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Entrevista – “Devo muito à minha família. Sem o apoio deles, eu e a barbearia não seríamos os mesmos.”
(Hoje falamos com Ricardo Santos, 32 anos de idade, natural de Vila Franca do Campo, barbeiro e dono da barbearia “Lisky”.)
O Ilhéu (I): Comecemos pelas origens. Como foi o teu percurso escolar?
Ricardo Santos (RS): O meu percurso escolar não correu bem. Na escola só fui até ao 7.º ano, algo de que me arrependo muito, uma vez que os meus pais deram-me todas as condições necessárias para continuar os estudos. Na altura, abandonei cedo a escola para começar a trabalhar e ganhar o meu próprio dinheiro. No entanto, anos mais tarde, procurei aumentar as minhas habilitações. Obtive o 9.º ano ao serviço do Exército Português e o 12.º em regime pós-laboral na Rede Valorizar. Depois disso, tirei uma formação na área da barbearia.
Arrependo-me imenso de não ter continuado na escola e, por isso, digo aos mais novos para seguirem os estudos, dando-lhes o meu exemplo. Atualmente, quem não tem pelo menos o 12.º ano, tem muita dificuldade em conseguir um bom emprego. Os jovens devem focar-se na escola de modo a seguir uma área que gostem.
I: Qual foi a tua primeira experiência profissional?
RS: Comecei a trabalhar com 17 anos após sair da escola. Queria ganhar o meu próprio dinheiro e ser independente dos meus pais. Todavia, a experiência não correu bem, pois trabalhei apenas 2-3 meses e fiquei desempregado durante algum tempo. Contudo, concluí que não podia viver com os meus pais sem trazer dinheiro para casa e arranjei trabalho na construção civil durante 4 anos. Porém, em 2009, veio a crise, fui despedido e em 2010 ingressei no Exército Português com 22 anos. Durante o meu serviço militar, participei numa missão da NATO, entre 2013 e 2014 no Kosovo. Foi uma experiência muito marcante, pois servir o meu país foi muito intenso emocionalmente. Muitas vezes chorei por causa das saudades da família, dos amigos e do medo de não voltar a vê-los.
Por outro lado, presenciar a extrema pobreza daquele país chocou-me tanto que perguntava a mim mesmo por que razão ninguém ajudava aquele povo. As escolas, por exemplo, não tinham condições para as dezenas de crianças que queriam aprender. A fome que elas tinham era tanta que eu e os meus colegas não nos importávamos de partilhar a nossa comida. Depois de terminar a missão, regressei a Portugal e saí do Exército em 2017. Foram sete anos magníficos dos quais guardo grandes amizades e recordações.
I: Como surgiu a ideia de seres barbeiro e teres o teu próprio negócio?
RS: Comecei a desenvolver o gosto pela profissão aos 15 anos durante a semana das festividades do São João da Vila. Queria cortar o cabelo para a festa e como não havia vaga nos cabeleireiros, decidi cortá-lo sozinho em casa. Não ficou espetacular, mas estava bom o suficiente. No dia a seguir, um amigo meu perguntou-me onde cortara o cabelo e eu respondi-lhe que o fizera em casa. No início, ele pensou que eu estava a brincar, mas depois pediu-me que cortasse o seu. Pouco tempo depois, a minha fama de barbeiro espalhou-se e comecei a cortar cabelos lá na rua. Na bancada havia apenas uma cadeira, uma tesoura e uma manta que cobria as pessoas.
Entretanto, os anos passaram, e após sair da tropa em 2017, decidi abrir a minha barbearia. Tirei o curso de barbeiro e, enquanto fazia várias formações na área, não só ia vendo o trabalho de outros barbeiros nas redes sociais, como por exemplo o João Rocha, mas também praticava diferentes cortes de cabelo nos meus amigos em troca de uma cerveja, com a minha máquina amadora.
Assim, após alguns meses à procura de um espaço bem localizado e depois de várias formações, finalmente abri a barbearia “Lisky” a 16 de junho de 2018. Era sábado e havia uma enorme fila de pessoas à espera para cortar o cabelo, sendo que o meu primeiro cliente foi o meu primo Santiago. Foi uma enorme alegria ver aquela gente toda. Quando abriu, a barbearia só tinha cinco cadeiras. Uma para o cliente que estava a cortar o cabelo, emprestada por uma cabeleireira amiga, e outras quatro para clientes que estavam à espera. Não havia nada do que hoje há aqui. Já lá vão quase 4 anos.
Em relação ao nome da barbearia, é a alcunha pela qual os meus amigos me tratam e a sua origem remonta ao tempo em que estive no Exército. Durante a missão no Kosovo, nós tínhamos um cão que era muito esperto, atento e companheiro, chamado Lisky. Um dia, os meus colegas de caserna começaram a chamar-me Lisky porque, diziam eles, eu era parecido ao cão. A alcunha colou tão bem que quando a trouxe para cá, passei a ser mais conhecido por Lisky do que por Ricardo. E daí resultou a inspiração do nome da barbearia que podem encontrar na Rua Santa Catarina, perto da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.
I: Como tem sido a experiência?
RS: A experiência tem sido fantástica e as coisas têm corrido muito bem. Adoro acordar e levantar-me para fazer aquilo que gosto. Vêm clientes de toda a ilha e adoro interagir com eles, sendo que muitos procuram a barbearia para desabafar enquanto lhes corto o cabelo. Julgo que essa confiança é sinal que estão satisfeitos com o meu serviço e há quem venha 2 ou 3 vezes por mês para cortar o cabelo e fazer a barba. Por exemplo, tenho miúdos com 6 anos de idade que vêm cá cortar o cabelo desde os 2, sendo que falam comigo sobre a escola e também são capazes de serem os clientes mais exigentes e adoro isso. Quem puder ter um negócio por sua conta, que arrisque e não desista dos seus sonhos. O caminho é árduo, mas se conseguir, sentirá um enorme orgulho naquilo que conquistou.
Eu comecei com uma cadeira emprestada e uma máquina de corte amadora. Na fase inicial, além de trabalhar na barbearia, também trabalhava aos fins de semana na construção civil para ganhar dinheiro extra. Tinha de trabalhar e pegar no dinheiro que ia ganhando para reinvestir na barbearia. Após 3 meses, comprei a primeira cadeira e isso foi uma vitória para mim. As primeiras máquinas não eram muito boas, mas eram minhas. Hoje, tenho máquinas muito melhores e de uso profissional porque soube poupar e reinvestir à medida que podia. Tenho muito orgulho no crescimento da minha barbearia e em mim próprio, pois sou melhor barbeiro do que era quando comecei. Todavia, tive que fazer muitas formações e workshops para melhorar as minhas capacidades, de forma a acompanhar as novas tendências e satisfazer as exigências dos clientes.
Mas tudo isto não seria possível sem o apoio incansável da minha família. Sou muito grato ao meu tio José, que é como se fosse um pai, até porque o meu, infelizmente, já faleceu. Na altura, eu preferi investir em melhores ferramentas de trabalho do que na decoração e, então, em conjunto com o meu tio, fizemos as mobílias, pintámos as paredes e arranjámos o resto do espaço. Também devo muito à minha prima Cláudia que faz toda a contabilidade da barbearia e ajuda-me em tudo o que preciso sem pedir nada em troca; à minha mãe e à minha tia pela ajuda que me dão na limpeza do espaço; à minha prima Regina pela instalação do extintor; ao meu primo José que também me ajuda sempre que necessito e à minha namorada pelo apoio e conselhos que me dá. Sem eles, a barbearia não existiria e foram eles quem me apoiaram a ter o meu próprio negócio.
I: Por outro lado, praticas futebol desde criança. Quão importante é o desporto na tua vida?
RS: O futebol é muito importante na minha vida e ter sido jogador foi fabuloso. Comecei aos 7 anos no Desportivo de Vila Franca, com dois primos, chamavam-nos “Os três Bolarinhos”. Lembro-me que o meu primeiro jogo foi contra o Fazenda do Nordeste que tinha um campo de terra. Nesse dia choveu e vencemos o jogo.
Os treinos eram espetaculares. Quando saíamos da escola, só pensávamos em jogar futebol e sermos grandes jogadores, porque tínhamos esse sonho. Nos jogos, por exemplo, tínhamos de estar às 16h no campo e chegávamos às 12, tal era a ânsia de jogar. Por vezes, depois dos treinos ou dos jogos, íamos até ao chafariz do jardim para tomar banho. Era uma autêntica folia. Gostávamos tanto de jogar, que muitas vezes íamos a casa comer uma sandes e regressávamos ao campo.
Já a nível sénior, recentemente estive no CF Vasco da Gama, onde fui campeão de São Miguel na época passada, e no início desta temporada marquei o meu primeiro golo para a Taça de Portugal contra o Sport Arronches e Benfica, do qual tenho muito orgulho. Fiz grandes amizades e fui muito feliz a jogar futebol.
Além da parte social, há também a parte da saúde. Praticar desporto é excelente para o nosso corpo e para a nossa mente porque nos permite abstrair dos problemas e promover o nosso bem-estar. Hoje em dia, os jovens passam demasiado tempo a jogar videojogos e isso é muito prejudicial para eles. Se não gostam de futebol, procurem alternativas como o futsal, vela, natação, karaté, etc. Fazer exercício físico e ter uma boa alimentação são fundamentais para uma vida com boa qualidade.
I: Por fim, que conselhos gostarias de dar aos alunos da EBS Armando Côrtes-Rodrigues?
RS: Os conselhos que dou aos alunos da escola são, em primeiro lugar, não desistam da escola e esforcem-se ao máximo nos estudos, porque foi difícil para mim trabalhar durante o dia e ter aulas à noite. Graças à escolaridade obrigatória, os alunos devem aproveitar essa oportunidade para não se arrependerem como eu e para, futuramente, terem bons empregos e uma vida bem-sucedida.
Em segundo lugar, digo aos jovens que há tempo para tudo. Muitos queixam-se que a escola ocupa demasiado tempo e que falta tempo para outras atividades. Eu discordo. Falta-lhes a capacidade de organizarem o seu dia e dedicarem o tempo necessário a cada atividade. Há tempo para estudar e para brincar. Tem de haver mais equilíbrio e melhor noção do essencial.
Ricardo Santos na sua barbearia Lisky |
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Biblioteca com exposição do aniversário de Armando Côrtes-Rodrigues
A Biblioteca Escolar da EBS Armando Côrtes-Rodrigues assinalou, este mês, o aniversário do patrono da unidade orgânica com uma exposição comemorativa da data.
Poeta, dramaturgo e também etnógrafo, Armando Côrtes-Rodrigues nasceu a 28 de fevereiro de 1891 em Vila Franca do Campo, tendo ido em 1915, depois de uma formação religiosa nos Açores, para Lisboa para realizar estudos universitários e concluído a licenciatura em Filologia Românica em 1927.
Durante esse tempo, fez parte do círculo de amigos de Fernando Pessoa, convivência que marcaria o início da sua carreira literária, com a publicação de poemas assinados sob o pseudónimo Violante de Cysneiros na revista Orpheu.
Integrada no movimento modernista, a sua poesia reflete a influência do paulismo e do simbolismo-decadentismo. A sua obra poética infletiu, posteriormente, para um lirismo mais tradicionalista, privilegiando temáticas rurais e religiosas, tendência verificada também no domínio da arte dramática, cultivando um teatro regionalista e de costumes.
Colaborou em publicações como A Águia, Orpheu, Exílio e, mais tarde, em Presença, Cadernos de Poesia, Portucale e Atlântico. De volta aos Açores, exerceu a atividade docente e efetuou importantes recolhas e estudos sobre a literatura oral e popular açoriana. Ode a Minerva (1922), Quatro Poemas Líricos (1948) e Horto Fechado e Outros Poemas (1953) são alguns dos seus títulos mais conhecidos.
Faleceu a 14 de outubro de 1971 em Ponta Delgada.
Placards sobre Armando Côrtes-Rodrigues |
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EBS Armando Côrtes-Rodrigues promove projeto ao abrigo do Erasmus+
Entre 2 e 9 de abril, a Escola Básica e Secundária Armando Côrtes-Rodrigues receberá alunos de Espanha e da República da Irlanda, num intercâmbio com escolas locais de cada país ao abrigo do programa Erasmus+.
A parceria, iniciada o ano passado, conta com dois grandes objetivos, nomeadamente a troca de impressões entre alunos de diferentes países e culturas, mas também a realização de uma experiência científica biológica que consiste na plantação de diversas sementes de couve de cada região e o acompanhamento do seu desenvolvimento durante três anos.
Por sua vez, a experiência científica divide-se por várias fases: preparação, organização e apresentação do projeto bem como a aquisição do material necessário; montagem de uma estufa e seleção e semeio dos diferentes espécimes de couve no interior e exterior da estrutura; observação e comparação dos dois plantios e monitorização do seu desenvolvimento; cuidados a ter com as pragas e infestações e, por fim, a floração e colheita de sementes. Assim, entre 2021 e 2023, cada escola parceira deste projeto será responsável por monitorizar as suas plantações e partilhar os resultados, pelo que, ainda neste ano letivo, os alunos da EBS Armando Côrtes-Rodrigues irão até Espanha e Irlanda para conhecer o trabalho desenvolvido pelos seus colegas.
Na EBS Armando Côrtes-Rodrigues, o projeto está a cargo das professoras Rosa Silva e Zilda Teixeira e conta com a participação dos alunos da turma de Técnico de Agropecuária da unidade orgânica, de um engenheiro do Serviço de Desenvolvimento Agrário, além de professores e pessoal não-docente.
Alunos durante a plantação das sementes |
Imagem das plantas no interior da estufa |
Pesagem de uma folha de couve |
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Problema do mês de matemática
“Os números!”
No problema deste mês, mergulhamos nos números para fugir à loucura dos homens.
No meio dos números, propomos um momento de racionalidade, um momento onde as coisas ainda consigam fazer algum sentido!
Problema: “Se escrevermos os primeiros 1000 números naturais uns após os outros, sem espaços, formamos a seguinte sequência de algarismos: 12345678910111213…1000
Quantos algarismos foram escritos até que se escreveu pela primeira vez três algarismos 9 seguidos?”
Solução do problema anterior: 13 horas.
Prof.º Paulo Ferreira
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